24 de fevereiro de 2011

FLORBELA ESPANCA, POESIA MEIGA E ÁCIDA

Traduz de forma límpida a livre intimidade da mulher, pelo que pode considerar-se que o recente movimento literário inspirado em vivências femininas encontrou nela suas raízes e seu estímulo. São reconhecidas em suas obras influências de Antero de Quental e de Antonio Nobre e em seu estilo se observam reminicências dos estetecistas e parnasianos. A intensidade erótica que transmitem seus poemas oscila entre o extremo egocentrismo, o sublime sacrifício. De uma lírica emocional e ardente, saltam ante o leitor todos os estados amorosos, desde a ternura sincera à exaltação sensual, à tristeza dos momentos de lucidez, à decepção, ao desencanto e ao agudo sofrimento. As inflexões contrastantes de sua poesia não são construções literárias e formais; originam-se na própria vivência do arrebatador e do adverso, do narcisismo e da anulação. Seus versos transportam à imensa planície do Alentejo, de onde é originária, sempre presente e sugerida em imagens de extrema sensibilidade e beleza. Sua primeira obra publicada foi Livro de Mágoas (1919), a que se seguiram Livro de Soror Saudade (1923); Juvenília (1931), que reúne a produção poética de 1916-1917; Charneca em flor (1931), em cuja segunda edição, desse mesmo ano, se juntaram os sonetos Reliquiae; Cartas (1931); As máscaras do destino e Dominó negro, contos, 1931. Foi publicado, também, Sonetos completos, já com 24 edições. A consciência clamorosa da solidão no amor, os excessos de insatisfação traduzidos na ânsia de infinito, de absoluto, que ficam mais dramáticos pela comprovação do caráter transitório da existência, a profunda depressão causada pela morte do irmão e o malogro de três casamentos a conduzem à desesperada opção do suicídio, no dia em que faria 36 anos.

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