25 de abril de 2011

MISSÃO CRULS: A RAIZ DE BRASÍLIA

Em junho de 1892, uma missão partiu do Rio de Janeiro com a finalidade de demarcar a área do futuro Distrito Federal. Durante sete meses, 22 pessoas percorreram 14 mil quilômetros, realizando demarcações de área e registrando dados sobre a fauna, a flora e os hábitos dos moradores do sertão brasileiro. A liderança da expedição coube ao engenheiro belga e estudioso de Geografia e Astronomia Louis Ferdinand Cruls, que chegou ao Brasil em 1874, seduzido pelas informações que obtivera de estudantes brasileiros na Bélgica. Entre os anos de 1892 e 1893, fez a identificação da zona constitucionalmente pré-definida, demarcando uma área de 14.400 quilometros quadrados, que incorporava áreas de antigas fazendas do estado Goiás, pertencentes às cidades de Planaltina e Luziânia. Obtém-se como resultado desses estudos o primeiro mapa do Brasil em que aparece no Planalto Central o “Quadrilátero Cruls”, área retangular que recebeu, oficialmente e pela primeira vez, a expressão “Distrito Federal”. Entre os vários estudos científicos realizados pela Missão Cruls, desde aspectos como clima, topografia, fauna, flora, entre outros, encontram-se os estudos dos cursos d’água de vários rios, entre eles o Rio Paranoá. Em junho de 1894, Cruls, após os resultados positivos obtidos pela comissão, foi designado para presidir a Comissão de Estudos da Nova Capital da União. A Segunda Missão Cruls fez estudos mais detalhados, especificamente da área do quadrilátero, quanto ao clima, águas da região, opções de comunicação com o litoral, levantamento topográfico. Sua incumbência era a de escolher o local definitivo para a edificação da capital. A área escolhida foi a planície abraçada pelos rios Torto e Gama, o mesmo local que serviu de observatório meteorológico e ponto de encontro da comissão. Essa área se localiza a cerca de cinco quilômetros do local onde se encontra, atualmente, o Cruzeiro de Brasília, próximo ao Memorial JK. O escolha do local foi reforçada por vários integrantes da comissão, dentre eles o naturalista e botânico Auguste Glaziou, que se refere à região destacando sua beleza e as peculiaridades do clima e das águas. Também foi Glaziou quem fez as primeiras referências sobre a possibilidade de formação de um lago em torno da futura capital. Chama a atenção para dois aspectos naturais da planície por ele observada: a possibilidade de existência de um lago em “tempos de outrora” e a possibilidade de criação de um novo lago, a partir da construção de uma “barragem”, aproveitando as qualidades que a área oferece. Os trabalhos da Segunda Missão Cruls foram até 1896. Com a saída de Floriano Peixoto, as idéias de mudança da capital, no que diz respeito às ações do poder executivo, foram temporariamente paralisadas. Os levantamentos e resultados, apontados pela comissão, serviriam como ponto de referência para as realizações de estudos futuros, no que concerne à transferência da capital para o Planalto Central. Em 1922, ano do Centenário da Independência do Brasil, Planaltina, na época, cidade do estado de Goiás, se destacaria no cenário nacional, quando, entre as celebrações, houve o lançamento da Pedra Fundamental da futura capital, em 7 de setembro de 1922, assentada no Morro do Centenário, Serra da Independência, a 9 quilômetros de Planaltina. Aliás, os recursos hídricos da área definida foram um dos elementos que chamaram a atenção dos integrantes da comissão, especialmente as águas da parte Centro-Sul do quadrilátero, e os levaram a indicar essa área como a mais apta a sediar a capital federal. Apesar de essa missão ter demarcado o quadrilátero onde seria a futura capital brasileira, demorou décadas até que a construção desta fosse concretizada, pois foi somente no governo de Juscelino Kubitschek que houve determinação política e vontade suficiente para que a capital deixasse o Rio de Janeiro e fosse transferida para Brasília.

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