O projeto nasceu no fim de 1968, após uma reunião entre o cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral; o trio buscava uma opção para substituir o tabloide humorístico A carapuça, editado pelo recém-falecido escritor Sérgio Porto. O nome, que significa "jornal difamador, folheto injurioso", foi sugestão de Jaguar. "Terão de inventar outros nomes para nos xingar", disse ele, já prevendo as críticas de que seriam alvo. Com o tempo figuras de destaque na imprensa brasileira, como Ziraldo, Millôr, Prósperi, Claudius e Fortuna, se juntaram ao time, e a primeira edição finalmente saiu em 26 de junho de 1969. Além de um grupo fixo de jornalistas, a publicação contava com a colaboração de nomes como Henfil, Paulo Francis, Ivan Lessa, Carlos Leonam e Sérgio Augusto, e também dos colaboradores eventuais Ruy Castro e Fausto Wolff. Como símbolo do jornal foi criado o ratinho "Sig" de Sigmund Freud. A primeira capa já tinha dono, seria com o colunista social Ibrahim Sued. E já no número de lançamento, um furo: o próximo general a governar o Brasil, depois de Costa e Silva, seria Emílio Garrastazu Médici. A primeira edição contou ainda com textos da atriz Odete Lara, que se encontrava no festival de Cannes, e do cantor e compositor Chico Buarque, direto de Roma. A irreverência do tablóide já se revelava na legenda de capa: um semanário executado só por jornalistas que se consideram geniais. Mesmo com receio, justificado pelo fracasso do periódico de Millôr Fernandes, o Pif Paf, que só teve oito edições e foi inviabilizado pela censura, 14 mil exemplares foram rodados para o primeiro número. A edição se esgotou em dois dias e mais 14 mil foram tirados. O sucesso de vendas foi inegável. No número dezesseis, a tiragem chegava a 80 mil exemplares. Dez semanas depois, a marca de 200 mil foi alcançada. O formato do semanário teve escolha fundamentada em argumento curioso. Numa pesquisa com colegas jornalistas, a equipe ouviu que os brasileiros não gostavam do tablóide, então ficou tablóide. No dia 26 de junho de 1969, já citado anteriormente, ia para as bancas o mais subversivo dos jornais. O Pasquim foi na verdade um grande celeiro de nomes que mais tarde estariam atrelados à intelectualidade brasileira. Henfil, Paulo Francis, Ferreira Gullar, Ivan Lessa, Carlos Heitor Cony, Rubem Fonseca, Ruy Castro e Luís Fernando Veríssimo são alguns colaboradores que podem ser citados. Segundo Sérgio Augusto, um dos organizadores da antologia, o sucesso era tamanho que se os redatores quisessem, o jornal poderia ser publicado totalmente em latim e venderia do mesmo jeito. Mesmo com perfil jovem e vendagem garantida, em tempos de regime militar o tablóide encontrava problemas para atrair anunciantes. Alguns chegaram a levar uma prensa do governo por atrelar sua marca a um jornal que reunia pessoas tidas como comunistas, pervertidas, difusoras de idéias subversivas, desencaminhadoras da juventude brasileira. Além dos generais, o Pasquim tinha opositores na própria classe. Nomes de peso da imprensa repudiavam a publicação do panfleto fescenino, como taxou Gustavo Corção, colunista do jornal O Globo. David Nasser, então editor da revista O Cruzeiro, o escritor Nelson Rodrigues e o intelectual Roberto Campos montaram firme oposição ao tablóide. O prestígio do Pasquim junto à classe artística e a esquerda, no entanto, não podia ser negado. A atriz Fernanda Montenegro chegou a protagonizar debochadas fotonovelas nas páginas do semanário. E o espaço pra crítica social sempre esteve presente, embebido em muito humor negro e ironia. Algumas questões colocadas com muito bom humor na época podem perfeitamente se aplicar aos dias de hoje. Em novembro de 1970 a redação inteira do O Pasquim foi presa depois que o jornal publicou uma sátira do célebre quadro de Dom Pedro às margens do Ipiranga, de autoria de Pedro Américo. Os militares esperavam que o semanário saísse de circulação e seus leitores perdessem o interesse, mas durante todo o período em que a equipe esteve encarcerada, até fevereiro de 1971, O Pasquim foi mantido sob a editoria de Millôr Fernandes que escapara à prisão, com colaborações de Chico Buarque, Antônio Callado, Rubem Fonseca, Odete Lara, Gláuber Rocha e diversos intelectuais cariocas. As prisões continuariam nos anos seguintes, e na década de 1980 bancas que vendiam jornais alternativos como O Pasquim passaram a ser alvo de atentados a bomba. Aproximadamente metade dos pontos de venda decidiu não mais repassar a publicação, temendo ameaças. Era o início do fim para o Pasquim.O jornal ainda sobreviviveria à abertura política de 1985, mesmo com o surgimento de inúmeros jornais de oposição e de novos conceitos de humor, redatores, egressos de O Pasquim, fundaram "O Planeta Diário". Graças aos esforços de Jaguar, o único da equipe original a permanecer em O Pasquim, o semanário continuaria ativo até a década de 1990. No carnaval carioca de 1990 toda a equipe de O Pasquim foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz com o enredo "Os Heróis da Resistência". A última edição, de número 1 072, foi publicada em 11 de novembro de 1991. O grande trunfo do Pasquim residia na irreverencia dos textos com piadas bem humoradas, era totalmente fundamentado na luta pela liberdade de expressão.
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