Poucos brasileiros tem uma biografia igual a de Abdias Nascimento. Foi um dos maiores defensores da defesa da cultura e igualdade para as populações afrodescendentes no Brasil, nome de grande importância para a reflexão e atividade sobre a questão do negro na sociedade brasileira. Teve uma trajetória longa e produtiva, indo desde o movimento integralista, passando por atividade de poeta com a Hermandad, grupo com o qual viajou de forma boêmia pela América do Sul, até ativista do Movimento Negro, ator e escultor. Paulista de Franca, carioca por adoção, foi testemunha participante dos grandes eventos que marcaram as oito últimas décadas. Lutou na Revolução Constitucionalista de 1932; participou da Frente Negra Brasileira, instituição esquecida pelos historiadores. Foi preso em 1937, panfletando contra a ditadura do Estado Novo. Participou ativamente da campanha, "O petróleo é nosso", que resultou na criação da Petrobras. Foi perseguido pelo regime militar de 1964 que o obrigou a deixar o país, exilando-se nos Estados Unidos e na África, foi deputado federal, senador e secretário de Estado. cargos que propôs e implementou iniciativas de combate ao racismo e da promoção da população afrodescente. Abdias Nascimento é Professor Emérito da Universidade do Estado de Nova York, na cidade de Buffalo, Estados Unidos, onde fundou a Cátedra de Culturas Africanas no Novo Mundo do Centro de Estudos Porto-riquenhos, Departamento de Estudos Americanos. Foi professor visitante na Escola de Artes Dramáticas da Universidade Yale de 1969 à1970; Visiting Fellow no Centro para as Humanidades, Universidade Wesleyan de 1970 à1971; professor visitante do Departamento de Estudos Afro-Americanos da Universidade Temple, Filadélfia de 1990 à 1991 e professor visitante no Departamento de Línguas e Literaturas Africanas da Universidade Obafemi Awolowo, Ilé-Ifé,Nigéria de 1976 à 1977. Em 2001, o Centro Schomburg de Pesquisa das Culturas Negras, Biblioteca Pública Municipal de Nova York em Harlem, entrega-lhe o Prêmio da Herança Africana Mundial. Recebe o prêmio UNESCO na categoria “Direitos Humanos e Cultura” em 2001e o Prêmio Comemorativo da ONU por Serviços Relevantes em Direitos Humanos em 2003. No Ano Internacional de Celebração da Luta contra a Escravidão e de sua Abolição em 2004, a UNESCO cria o prêmio único Toussaint Louverture para reconhecer dois intelectuais ativistas, Abdias Nascimento e Aimé Cesaire, que dedicaram suas vidas à luta contra o racismo e a discriminação racial. O Conselho Nacional de Prevenção da Discriminação, do Governo Federal do México, outorga-lhe prêmio em reconhecimento à sua contribuição destacada à prevenção da discriminação racial na América Latina em 2008. Em 2006, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva condecorou Abdias Nascimento com a Ordem do Rio Branco no grau de Comendador. Em 2007, o Ministério da Cultura lhe outorga a Grã- Cruz da Ordem do Mérito Cultural; em 2009 recebe do Ministério do Trabalho a Grã Cruz da Ordem do Mérito do Trabalho. Todos os três são as mais altas honrarias do Governo Federal do Brasil em suas respectivas áreas. É Doutor Honoris Causa pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Universidade Federal da Bahia; Universidade de Brasília; Universidade do Estado da Bahia; Universidade Obafemi Awolowo, Ilé-Ifé, Nigéria. Abdias do Nascimento é descrito como o mais completo intelectual e homem de cultura do mundo africano do século XX. Publicou "Africans in Brazil": a Pan-African perspective" em 1997, "Orixás: os deuses vivos da Africa", "Orishas: the living gods of Africa in Brazil", de 1995, "Race and ethnicity in Latin America - African culture in Brazilian art" de 1994, "Brazil, mixture or massacre? essays in the genocide of a Black people" de 1989, "Sortilege" - black mystery de 1978 "Racial Democracy in Brazil, Myth or Reality?: A Dossier of Brazilian Racism" de 1977. Em vista de um imenso currículo, uma pergunta é feita: Como é que um homem com esse nível pode ser quase desconhecido pelo grande público? Em maio desse ano Abdias Nascimento faleceu aos 97 anos.
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